A igrejinha foi construída no Engenho d’El Rey

Quem vai até o número 80 da Rua Faro, no Jardim Botânico, nem imagina que existe nos terrenos da entidade beneficente Casa Maternal Mello Mattos um dos mais antigos templos religiosos da cidade. Bem conservada após muitas restaurações,
a Capela de Nossa Senhora da Cabeça — em homenagem à santa homônima — mantém ainda hoje a sua configuração original, ao ser construída, entre os anos de 1603 e 1607, no então Engenho d’El Rey.

Situada na encosta do Jardim Botânico, envolta pela mata da Floresta da Tijuca e tombada pelos governos federal e municipal, a igrejinha foi erguida, por ordem do governador Martim Corrêa de Sá, às margens de um riacho também batizado de Cabeça. O culto à Virgem de mesmo nome foi iniciado pelo mandatário da Capitania Real do Rio de Janeiro, tendo sido sua família a responsável pela vinda da imagem diretamente de Portugal.

A estrutura da capela é composta por uma fachada simples, com frontão triangular e ombreiras de cantaria, duas janelas gradeadas e uma porta almofadada de madeira. Do lado de dentro, há um único cômodo, pavimentado com lajotas de barro e coberto por abóbada de berço feita de alvenaria. O altar é de madeira, com veios policromados já do século XVIII.

No período de sua execução, as áreas onde hoje estão os bairros da Tijuca, Laranjeiras, Gávea e Andaraí eram dominadas pelos engenhos de açúcar. Entre 1576 e 1577, uma fábrica de açúcar nas proximidades da Lagoa de Sacopenapã (atual Rodrigo
de Freitas) recebeu a denominação de Engenho d’El Rei, impulsionando o desenvolvimento da região. A construção de capelas havia se tornado comum nas fazendas e chácaras de proprietários com boa situação econômica, como forma de reduzir os grandes deslocamentos até paróquias da cidade para cumprir as atividades religiosas dos moradores.

Ao longo dos anos, a igrejinha sofreu diversas reformas, sendo a última em 2005, quando foram recuperados o telhado, esquadrias, alvenarias de pedra e cal e o piso. Durante a intervenção, acompanhada por arqueólogos, encontraram-se vestígios
de louça, vidro e outros materiais dos séculos XVII, XVIII e XIX.

 

Capela de Nossa Senhora da Cabeça
Rua Faro, 80 – Jardim Botânico