Um passeio pelo antigo Caminho do Imperador em meio à Mata Atlântica

Em meados do século XIX, para escapar do calorão do Rio, D. Pedro II costumava pegar um barco a vapor no Largo da Prainha – atual Praça Mauá –, aportando em Guia de Pacobaíba, na Baía de Guanabara, à altura de Magé. Dali, seguia em carruagem durante um dia inteiro até chegar à região de clima ameno que receberia o nome em homenagem ao Magnânimo: Petrópolis. Mas, bem antes disso, nos dois séculos anteriores, a então Estrada Real já era utilizada para escoar a produção de ouro e diamantes de Minas Gerais até os portos do Rio de Janeiro.

No ano de 1854, o Barão de Mauá inaugurou a estrada de ferro de onde partia a Baroneza, a primeira locomotiva do Brasil, que aposentou as charretes na condução do ilustre passageiro de Pacobaíba a Raiz da Serra. A partir dali ainda se subia em carruagem até a Cidade Imperial. Com a abertura de um novo trecho, a Estrada de Ferro Príncipe do Grão-Pará, em 1883, o trem chegaria, enfim, a Petrópolis. 

A 25 de agosto de 1928, o presidente Washington Luís inauguraria a estrada Rio-Petrópolis, um marco na história do desenvolvimento rodoviário do país. Numa época em que toda a frota de automóveis e caminhões fluminenses era inferior a 20 mil veículos, essa construção, com seis viadutos, representou um grande desafio para a engenharia nacional. Ela se transformaria, cinco anos depois, na primeira estrada pavimentada do Brasil, a partir da instalação, na subida da serra, das placas de concreto iniciais.

Na década de 50, o governo federal construiu a Estrada do Contorno (atual pista de descida), ligando Itaipava a Xerém, em Duque de Caxias. Em 15 de junho de 1980, foi inaugurada o novo trecho duplicado da BR-040, ligando Petrópolis a Juiz de Fora, em substituição à Estrada União Indústria, aberta no século XIX pelo Magnânimo.

Hoje, em que o trajeto até Petrópolis, partindo de carro ou ônibus do Centro do Rio, pode ser feito em menos de uma hora, nossa dica é tirar o dia para desfrutar essa pequena e irresistível viagem. A estrada em si – sob a gestão da Companhia de Concessão Rodoviária Juiz de Fora-Rio (Concer) desde 1996 – já constitui um passeio delicioso, em meio à exuberância da Mata Atlântica.  

A paradinha no Mirante do Cristo (km 85 da rodovia) é nota mil. Dali se descortina uma panorâmica deslumbrante da Serra da Estrela e do Rio de Janeiro – garantia de belas fotos. A escultura do Redentor na cruz, construída originalmente em madeira em 1938, foi substituída três anos depois por outra em granito, com o Cristo em bronze. 

 A partir desse ponto do trajeto, aproxima-se o momento de fazer um lanchinho especial – e indispensável, na visão de muitos tarimbados viajantes. Já chegando a Petrópolis, recomenda-se um pit stop à beira da estrada na famosa Casa do Alemão, para degustar suas famosas especialidades: os célebres croquetes de carne e sanduíches de linguiça. 

Após a ida a pontos turísticos, centros históricos e culturais de Petrópolis, se você quiser estender o passeio, pode prolongar um pouquinho a viagem e se hospedar no lendário Castelo de Itaipava, em estilo medieval com um toque normando clássico. Há, inclusive, a opção de se deliciar aos arredores da edificação de 1920, em um polo gastronômico situado também no Km 56. Um convite e tanto para dar aquela esticada no programão e curtir a noite na cidade.