Tribo carnavalesca mantém a defesa das raízes culturais brasileiras

No ano em que nossa estrela foi brilhar também no céu, o Almanaque Carioquice não poderia deixar de reverenciar aquela que tanto fez pela cultura do Rio de Janeiro. Então, nada mais Beth Carvalho que falar sobre o Cacique de Ramos, sua grande paixão. Na sede de Olaria, a madrinha do mais tradicional bloco carnavalesco da cidade protagonizou incontáveis rodas de samba.

Originário do subúrbio de Ramos e sob a denominação relâmpago de Homens das Cavernas, o Cacique foi fundado em 20 de janeiro de 1961, tendo São Sebastião por padroeiro. A própria Mãe Menininha do Gantois abençoou o nascimento da agremiação, aos pés da tamarineira em torno da qual brotavam as rodas. Conceição de Souza Nascimento – filha espiritual da ialorixá baiana e mãe de Bira Presidente, comandante da tribo até hoje – preparava todo o lado espiritual dos componentes por meio de preceitos e patuás.

A partir de 1970, o “Pagode da Tamarineira”, às quartas-feiras, passou a aglutinar diversos compositores e intérpretes ainda anônimos, a exemplo de Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz (segundo o qual a história do samba se divide antes e depois do Cacique de Ramos), Sombrinha, Jorge Aragão, Almir Guineto, Luiz Carlos da Vila e Jovelina Pérola Negra. Ao final daquela década, levada por Alcyr Portela, então presidente do Vasco, Beth Carvalho, já famosa, começou a frequentar o Pagode e a gravar músicas daquela galera toda: virou madrinha do bloco.

As antigas apresentações do bloco chegavam a atrair mais de 10 mil componentes que lotavam a Praça Onze, a Avenida Presidente Vargas e a Avenida Rio Branco todo ano. Hoje, as alas apache, carajás, cheyeenne, cura ressaca, comanche, guerreiros, tamoios e curumim ganham os quarteirões da Avenida Chile, também no Centro do Rio, durante o carnaval. As fantasias, nas cores branca, preta e vermelha, buscam a defesa e o resgate da cultura do índio brasileiro.

Na voz de Beth, temas de desfiles do bloco, como “Vou festejar” (Jorge Aragão, Dida e Neoci Dias) e “Coisinha do pai” (Aragão, Guineto e Luiz Carlos), se tornaram um sucesso retumbante em todo o Brasil. A segunda tocou até em Marte, escolhida por cientistas da Nasa para acionar um robô na nave Pathfinder sobre a superfície do planeta vermelho, em 1997.

Ao completar 51 anos, em 2012, a imagem peregrina de São Sebastião foi levada à quadra, acompanhada pelo Arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta, que rezou uma missa no local. O evento comemorativo homenageou também Ricardo Cravo Albin e Haroldo Costa, que receberam diplomas das mãos de Bira.

À época, a agremiação já havia sido contemplada com a Medalha Tiradentes da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), por manter a tradição do carnaval carioca e constituir um baluarte de talentos da música brasileira. E então, quer conhecer essa relíquia de perto? Aos domingos, a partir das 17h, tem roda de samba, com entrada franca. Um convite irrecusável para todas as tribos.

 

Cacique de Ramos
Rua Uranos, 1.326 – Olaria
Tel.: (21) 98543-3821