Portas do antigo Paço Isabel se abrem à visitação pública

Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança e Bourbon era carioca da gema. Veio ao mundo no Palácio de São Cristóvão, hoje Quinta da Boa Vista, em 1846. Defendeu ideias avant-garde, como o sufrágio feminino, foi a primeira senadora do Brasil e regente do Império por três vezes. Tanta destreza política, que culminou com a assinatura da Lei Áurea, envolveu até um jeitinho para convencer o pai, D. Pedro II, a não enviar seu marido, Gastão de Orleans, à Guerra do Paraguai.

Ao se casarem, em 1864, a Princesa Isabel e o Conde D’Eu foram morar num palacete de linhas neoclássicas, de 1853 – o Paço Isabel. Com o fim do Império, a propriedade dos Bragança, confiscada, virou patrimônio da União por decreto, em 1891 (o longevo processo dos herdeiros por indenização ainda tramita na Justiça). Dezessete anos depois, uma reforma emprestou à fachada características ecléticas, incorporando os dois torreões, a colunata, a escadaria e os elementos de estuque. Residência oficial dos presidentes da República desde Hermes da Fonseca até Eurico Gaspar Dutra, o imóvel passou em 1946 a sediar a Prefeitura. E, a partir de 1960, a administração estadual, recebendo o nome de Palácio Guanabara.

Em março deste ano, o governo abriu as portas da edificação a visitas guiadas. O roteiro inclui o Salão Nobre (mistura de estilos Luís XV e rococó, com mobiliário de época e um imenso quadro retratando a morte de Estácio de Sá), onde ocorriam festas, saraus e encontros políticos; e o Salão Verde, ex-sala de jantar, atualmente utilizada para reuniões. No Salão Pé de Moleque, uma cobertura de placas de vidro e a iluminação especial permitem observar o trecho de calçamento de pedras introduzido pelos portugueses na cidade no período colonial – e descoberto durante as obras de restauração em 2011. Nas paredes do espaço que recepciona chefes de Estado, uma coleção itinerante de telas de artistas plásticos brasileiros, renovadas mensalmente.

O jardim interno – onde a Redentora passava boa parte do tempo – exibe revestimento de ladrilhos hidráulicos turcos, ornamentados por uma fonte em que figuram dois botos cinzas – animais presentes no brasão oficial da cidade. Já o grandioso Jardim Simétrico conserva o desenho original do início do século XX, assinado pelo paisagista francês Paul Villon. É ornado por alamedas de palmeiras imperiais e árvores frutíferas exóticas, como pêssego-da-Índia, caqui-preto e olho-de-dragão. Lá se encontra o Chafariz de Netuno, com a estátua do deus da mitologia romana confeccionada pela Fundição Val d’Osne, que foi a mais importante da França.

A jornada termina na neocolonial Capela Santa Teresinha – construída a pedido da esposa de Gaspar Dutra –, que celebra missas comunitárias, batizados e casamentos. O passeio deve ser agendado previamente para grupos de estudantes (visitas de segunda a sexta) e público em geral (sábados). Uma vez por mês, acontecem eventos artísticos e culturais ao ar livre, abertos à comunidade. Nada como um dia de princesa.

 

Palácio Guanabara
Rua Pinheiro Machado, s/n – Laranjeiras
Tel.: (21) 2334-3322