ICCA festeja parcerias para a realização de novos projetos

O Instituto Cultural Cravo Albin (ICCA) fecha 2018 com muitos motivos para comemorar. É que o novo ano chega repleto de iniciativas alvissareiras. A entrada do Sesc-Rio como um importante parceiro vai ativar possibilidades relacionadas ao acervo e a eventos. Além do objetivo de duplicar o já alentado número de consulentes do Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira on-line – de um milhão para dois milhões/ano –, destaca-se o projeto de inserção de mais mil verbetes. Os 14 mil atuais deverão atingir a faixa de 25 mil em três anos!
“Com cerca de 40 mil páginas, o Dicionário foi considerado este ano pela Unesco o mais extenso banco de dados de música popular do mundo”, vibra Ricardo Cravo Albin com a conquista alcançada em torno da vultosa documentação que leva seu nome. “O universo da MPB é abismal. Somos o país com maior participação do povo em todos os gêneros, do sertanejo ao gospel, do rock à canção primitiva”, complementa.

O Sesc-Rio vai colaborar também no lançamento de uma série de premiações destinadas a monografias na área de Música Popular Brasileira e regravações históricas de intérpretes como Francisco Alves, Carlos Galhardo, Geraldo Pereira e Wilson Batista. “Cantores e compositores da célebre Era do Rádio serão profundamente estudados – explica Cravo Albin –, para que recebam referências bibliográficas e fonográficas. A ideia é resgatar a memória de nomes que andam injustamente esquecidos.”
Existe, igualmente, a intenção de reverenciar não somente o passado, mas a originalidade. “Pensamos em prêmios criativos dentro do conceito da magia do Carnaval, de modo a ampliar o arco de sedução das escolas de samba. E, ainda, estender as láureas a outras categorias das artes em geral, como, por exemplo, o Prêmio Nelson Pereira dos Santos, agraciando novos cineastas.”

Em parceria com os Sescs Rio e São Paulo, será instituído o “Troféu Ângela Maria de Ouro”, em homenagem à eterna “Sapoti”, falecida em 29 de setembro deste ano. Um júri especializado apontará a cantora revelação do ano, que levará para casa uma estatueta desenhada pelo renomado escultor Edgar Duvivier. Estão previstos, também, dois espetáculos com importantes artistas do Rio de Janeiro, onde Abelim Maria da Cunha (o nome de batismo de Ângela) estourou em 1951, e de Sampa, a cidade em que morou nos últimos anos. “Ela personificou o caso de sucesso mais instantâneo da MPB. No curto espaço de um ano, virou estrela nacional. Buscaremos eleger uma intérprete que exiba essa mesma possibilidade de ascensão meteórica.”

Enquanto isso, a equipe do ICCA vem sendo estimulada pelo empresário Renato Abreu, presidente do Grupo MPE, que fez várias encomendas de produtos culturais, como as caixas com quatro CDs em comemoração aos 100 anos de Noel Rosa e Luiz Gonzaga. O Grupo patrocinou durante muitos anos os saraus “Chorando com Joel”, aos sábados, recuperando a longa tradição – vinda dos anos 30 e 40 – de tocar o tradicional gênero musical carioca nos quintais das casas de Pixinguinha, em Olaria, e de Jacob do Bandolim, em Jacarepaguá.
“São referências históricas que o ICCA agora recupera. Queremos, ainda, fazer uma compilação criativa de letras de canções brasileiras e textos da poesia clássica. Essa conjunção, desdenhada pelos puristas, pode ser estimulante, conforme demonstrou o Prêmio Nobel de Literatura 2016, concedido ao compositor popular norte-americano Bob Dylan.” Da mesma forma, tenciona-se pesquisar o enorme baú de letras que foram proibidas pelo regime militar e nunca vieram a público. O projeto será desenvolvido a partir do livro “Driblando a Censura”, que absorveu parte dos pareceres de Ricardo Cravo Albin para liberar letras de músicas e textos de teatro, novelas de televisão e filmes.
Por outro lado, o Instituto pretende retomar com o novo governo estadual o Projeto MPB nas Escolas, produzindo milhares de pastas a serem distribuídas à rede de Segundo Grau de todos os municípios do Rio de Janeiro. “Essa iniciativa embute, estrategicamente, noções preciosas e subliminares de cidadania, comportamento, amor à Pátria, literatura, poesia, história e consciência de preservação de memórias e de valores nacionais. Além, por sua natureza lúdica, de impedir a absurda evasão escolar, hoje uma das tragédias do ensino no Brasil”, afirma Cravo Albin.
O ICCA também mapeará o calendário cultural da cidade, em celebrações como os 100 anos de Nelson Gonçalves, envolvendo uma grande exposição e vários saraus com o repertório do “Cantor das Multidões”, remetendo à afirmação da música romântica. “O coração do Rio não bate apenas em ritmo de samba, mas em compasso de amor. Queremos desestigmatizar a canção derramada do rótulo de cafona, à imagem do que muitos pregam. Essa visão preconceituosa representa um insulto ao temperamento do carioca mais sentimental. Eu a repilo, não só com autoridade, mas indignação.” Palavra do mestre, incansável em comandar ações para preservar e renovar o imenso patrimônio cultural do nosso Rio. Um brinde mais do que merecido e vida longa ao ICCA!