Dicionarista nomeia delícia do mar em restaurante secular na Praça XV
Terá sido a fachada em azulejos brancos, estampados com uma sopa de letrinhas azuis formando o nome da casa, o imã que primeiro capturou a atenção do mestre das palavras? A pergunta não passa de uma brincadeira, mas o fato é que o Rio Minho foi um dos restaurantes preferidos de Antônio Houaiss. Exigentíssimo em relação às duas línguas – a Flor do Lácio e a das papilas gustativas –, o filólogo tornou-se um cliente tão assíduo que dava até pitacos na cozinha. Seu nome inclusive batiza uma peixada especial, com camarões grandes, açafrão e batatas.
A República do Brasil nem fora ainda proclamada e o mais antigo restaurante da cidade já havia aberto as portas na Praça XV, em 1884. Sabe lá o que é ostentar como patrono o ilustre Barão do Rio Branco, outro personagem que nomeia uma peixada do cardápio? Pois o ministro das Relações Exteriores de quatro presidentes almoçava todo dia no Minho, onde gostava de ler jornal remansosamente.
Mas antes de ir direto aos pratos favoritos do Barão e de Houaiss, nada melhor que beliscar a casquinha de cavaquinha ou a lula anelzinho ao alho. Sem pressa, é possível escolher outras opções de peixes, como cherne com aspargos e linguado ao molho de camarão. Há também os tradicionais polvo com arroz e brócolis, bacalhau a Zé do Pipo, moquecas, mariscadas, mexilhões e paella, além do carro-chefe: misto grelhado de frutos do mar.
Cabe destacar a especialidade mais famosa da casa, a Sopa Leão Veloso. Trata-se de um caldo revigorante, à base de cherne, camarão, cavaquinha, lula e mexilhão, introduzido pelo diplomata homônimo, numa adaptação tropical da La bouillabaisse, da cozinha marselhesa. Se ainda houver espaço para sobremesa, o pastel de Belém, o pudim com ameixa e as compotas de figo, goiaba ou pêssego fazem bonito. Almoçar no simpático sobrado da Rua do Ouvidor – cujo bar anexo ao ar livre serve porções a precinhos mais camaradas – ganhou um atrativo adicional com a abertura na região do Boulevard Olímpico em 2016. Após três gerações de proprietários lusos, a casa, cujo nome homenageia as águas divisórias entre Portugal e Espanha, está desde a década de 80 nas mãos do galego e chef Ramon Dominguez.
Embaixador informal do Rio Minho, Antônio Houaiss também atuou oficialmente como vice-cônsul do Brasil em Genebra, passando ainda por postos diplomáticos nos Estados Unidos, Grécia, República Dominicana e Ruanda. Depois de exercer o cargo de Ministro da Cultura no governo Itamar Franco, o gourmand presidiu a Academia Brasileira de Letras (ABL), onde ocupou a cadeira 17. Filho de um casal de imigrantes libaneses radicados no Rio, morreu em 1999, deixando uma herança enciclopédica sob a forma do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa e o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da ABL – títulos de um tesouro incalculável.
Rio Minho
Rua do Ouvidor, 10 – Centro
Tel.: (21) 2509-2338