Livraria na Rua do Ouvidor honra a vocação intelectual e gregária do Rio Antigo

A partir do século XIX, a Rua do Ouvidor foi o CEP por excelência das livrarias cariocas, a exemplo da Garnier e José Olympio. Hoje, a queridinha das gentes é a Folha Seca, especializada em publicações sobre futebol e temas associados ao Rio de Janeiro, como a música e a história da cidade. Lá bate ponto o exímio caricaturista Cássio Loredano – ele e a torcida de escritores, amantes das letras e boêmios em geral.

“Vou de duas a três vezes por semana. Ali lancei quatro livros, entre os quais ‘Rio, papel e lápis`, uma encomenda do Instituto Moreira Salles (IMS). Nele estão 61 fachadas arquitetônicas importantes, a maioria no Centro, que desenhei em comemoração aos 450 anos da cidade. Inclusive uma da Rua do Ouvidor, em que figura o sobrado da Folha Seca. Sempre bebo uma cerveja na vizinha Toca do Baiacu, parceira, aliás, da livraria no Samba do Peixe. É uma roda com músicos maravilhosos e que acontece na frente dos dois estabelecimentos em algum domingo de cada mês – nunca se sabe de antemão”, avisa Loredano.

O nome da livraria homenageia a um só tempo as duas paixões do dono, Rodrigo Ferrari, fascinado pelo Rio Antigo. Trata-se de uma referência à famosa batida na bola do craque Didi, do Botafogo, e ao clássico samba de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito. Ela começou em 1998, numa lojinha no Centro de Arte Hélio Oiticica. Em 20 de janeiro de 2004 – Dia de São Sebastião, padroeiro da cidade –, transferiu-se para o endereço atual, num trecho emblemático da Belle Époque. “Aquela área estava abandonada, deserta, mas a instalação da livraria provocou um renascimento. A abertura de novos pontos de comércio encheu a rua de gente, reavivando suas tradições de polo de encontro”, acentua o desenhista.

Como editora, a Folha Seca lançou livros sobre música, arquitetura e teatro, a exemplo de “Lembrança gravada: atores e atrizes nos logradouros do Rio”, enfocando artistas que viraram nomes de ruas no município. O próprio Rodrigo Ferrari – que ganhou em 2012 a medalha Pedro Ernesto da Câmara dos Vereadores pelos serviços prestados à cultura carioca – estreou como escritor em “O meu lugar”. Na coletânea, organizada por Luiz Antônio Simas e Marcelo Moutinho, o autor rubro negro assina uma crônica que mescla seus temas preferidos: futebol e Cidade Maravilhosa.

A cada ano, a Folha Seca celebra um personagem, como Francisco de Paula Brito, o primeiro a publicar Machado de Assis. Em sua livraria na Rua do Catete, Brito fundou, em 1840, a excêntrica Sociedade Petalógica. Lá, segundo Machado, escritores de proa e pessoas de diversas camadas sociais se reuniam para confabular sobre tudo, “desde a retirada de um ministro até a pirueta da dançarina da moda”. Qualquer semelhança com a nossa heroína da Rua do Ouvidor é pura inspiração.

 

Folha Seca
Rua do Ouvidor, 37 – Centro
Tel.: (21) 2507-7175