Maestro começou a construir sua carreira musical no antológico barzinho de Copa
O ambiente é um clone do templo histórico da Bossa Nova, onde se apresentavam todas as feras – como Elis Regina, Sérgio Mendes e Baden Powell –, até cerrar as portas, em 1966. Inclusive o mago das teclas Francis Hime. “Fiz o primeiro show da minha vida no Bottle’s Bar, ao lado de Dori Caymmi e sob a direção de Ruy Guerra. Ainda estudava engenharia, mas já compunha com Vinicius de Moraes e o próprio Ruy. Ali iniciei a carreira musical”, rememora o autor de tantas pérolas da MPB.
Depois de tanto tempo fechado, o Bottle’s reabriu em 2014, no mesmíssimo lugar onde criou fama: o antológico Beco das Garrafas, que reunia também as casas noturnas Little Club, Bacará e Ma Griffe. Lá, a dupla dinâmica Luís Carlos Miele e Ronaldo Bôscoli começou a linha de produção de shows que a celebrizou na cena musical carioca. Situada no final de Copacabana, a travessa sem saída da Rua Duvivier teria recebido a alcunha por um motivo que se tornou lenda urbana. Os moradores vizinhos, incomodados com a barulheira noite após noite, manteriam a prática de atirar garrafas sobre os boêmios na via pública. Uma versão meio improvável, mas lenda é lenda, e não se fala mais nisso.
A casa preserva a atmosfera aconchegante, com fotografias de músicos que por lá passaram, como a de Jorge Ben Jor (ainda só Jorge Ben), Dom Um Romão, Milton Banana e Tião Neto. Na entrada, uma pilastra exibe a guitarra branca que pertenceu a Durval Ferreira, falecido em 2007. Instrumentista e autor de standards da Bossa Nova, ele era pai da cantora e produtora cultural Amanda Bravo, que reinaugurou o espaço, com capacidade para 80 pessoas.
As mesinhas seguem coladas ao palco. “Há muito tempo me sinto inteiramente à vontade diante do público, sem beber uma única gota de álcool antes dos shows. Mas, à época, no dia da estreia da temporada, tomei quase uma garrafa de uísque para criar coragem de entrar em cena – hábito que se prolongou por 20 anos. E, como a iluminação era baixa, levei um tombo e caí em cima da primeira mesa”, relembra Francis.
Atualmente, a Bossa Nova e o Samba-jazz – gênero instrumental originado no balanço bossanovista, a partir da convivência de um naipe formado por Luiz Carlos Vinhas, Maurício Einhorn, Airto Moreira, Chico Batera, Wilson das Neves, entre muitos outros – mantêm o protagonismo nos shows ao vivo. Mas a programação diária mescla vários estilos e projetos, incluindo festas temáticas e apresentações com DJs, em meio a cervejas, destilados e petiscos.
O querido maestro Francis Hime – que hoje diz “adorar o palco e conversar com o público” – deixa no ar a possibilidade de fazer uma apresentação intimista no Bottle’s. Seria emocionante voltar ao mesmo Bat local onde começou a abandonar a engenharia para construir os primeiros e sólidos pilares na música brasileira. Puro malte sonoro.
Bottle’s Bar
Rua Duviver, 37 – Copacabana
Tel.: (21) 2543-2962