Primeira grande sinagoga do Rio foi fundada por colônia da Praça XI

Em 1932, ano de inauguração do Grande Templo Israelita, a maior parte do núcleo judaico do Rio de Janeiro habitava as cercanias da Praça XI. Era formado, majoritariamente, por imigrantes pobres – ambulantes e prestamistas –, recém-chegados ao país. Mas que, com frações de seus parcos ganhos diários, aspiraram erigir não só mais uma casa de orações, e sim um emblema da permanência na nova terra.

“Foi a primeira grande sinagoga da cidade. Ela reflete o símbolo identitário maior da história dos judeus no Rio e da esperança que vislumbravam no futuro do Brasil, em contraste ao quadro sombrio do qual fugiram na Europa. Nesse Templo, meu filho Daniel comemorou seu Bar-mitzva, em 1988, com direito a apresentação da cantora Eliana Pittman”, recorda com afeto o jornalista Moysés Fuks, sempre reverenciado como o criador do carioquíssimo termo “bossa nova”.

A idealização da sinagoga coube a Jacob Schneider, avô do atual presidente, Ruy Flaks Schneider, e fundador do pioneiro jornal judaico “Gazeta Israelita”. Partiu dele a ideia de adquirir um terreno na Praça da Cruz Vermelha, objetivando o levantamento de um templo à altura da pujança da colônia no Rio. Procedeu-se, então, a uma campanha para a arrecadação de recursos à obra, incluindo o leilão de pedras com os nomes dos profetas judeus – que repousam sob a construção hoje existente, conferindo-lhe uma aura de sustentação simbólica.

Os 26 metros de altura das torres avultavam o empreendimento em meio ao padrão de telhados baixos da região. “Nossa capital precisava de um Templo como esse, que viesse embelezar e engrandecer esta encantadora cidade da Guanabara”, declarou à época Schneider, homenageado com uma placa de bronze à entrada do prédio.

O projeto foi concebido pelo arquiteto italiano Mario Vodret (responsável também pelo Parque Lage), que teria se inspirado na Grande Sinagoga de Trieste. Suas duas elegantes rosáceas valorizam a iluminação zenital. Chamam a atenção as pinturas evocativas de cenas bíblicas e um belo mosaico, emoldurando o Aron Hakodesh, arca que contém os rolos da Torá. A representação do Zodíaco – elemento ornamental desde o período do Segundo Templo de Jerusalém – é outro destaque, traduzindo as 12 tribos de Israel.

“Tombada pela prefeitura, a sinagoga recebe as principais cerimônias religiosas judaicas, concertos, palestras e cursos. Suas redes sociais disponibilizam a programação de eventos abertos ao público e escolas, a exemplo de visitas teatralizadas reencenando a relação de judeus e negros, que já viviam na Praça XI. E, ainda, descrevendo como se organizava o comércio local, entre açougues kosher, vendedores de bagels (rosquinhas trançadas salpicadas de gergelim), sapateiros, livrarias, casas de tecido e tipografias”, relembra Fuks. Shalom alechem!

 

Grande Templo Israelita do Rio de Janeiro
Rua Tenente Possolo, 8 – Centro
Tel.: (21) 2232-3656 (agendamento de visitas)