Formações rochosas serviram de refúgio para escravos na floresta
Especialista em capturar imagens deslumbrantes do Rio em espaços abertos, nas quase quatro décadas de fotojornalismo, Custódio Coimbra aponta suas lentes também para tesouros recônditos. Como o Circuito das Grutas do Parque Nacional da Tijuca. Elas serviram de refúgio para os escravos entre os séculos XVIII e XIX, que trabalhavam no cultivo de café e de cana-de-açúcar e na extração de lenha.
A experiência mágica começa a partir de uma trilha bem sinalizada na altura do restaurante A Floresta. Em estilo colonial, ele foi construído sobre as fundações da senzala do Sítio Midosi, do cafeicultor francês Guilherme Midosi, onde moraram os escravos do Major Manoel Gomes Archer, que comandou o replantio da Floresta da Tijuca, entre 1861 e 1874.
Depois de uma caminhada de cerca de 25 minutos, avista-se a Gruta do Archer, uma enorme cavidade composta pela sobreposição de blocos de pedra. Ao atravessar o ar gelado da galeria principal, chega-se a uma grande abertura nos fundos, descortinando-se um visual simbiótico entre os reinos vegetal e mineral.
De volta à entrada da Archer, vê-se o caminho até um patamar rochoso, a 30 metros de altura. Lá, encontramos a Gruta do Belmiro. Não há muito espaço no interior. Porém, vale encarar uma subida lateral para assumir a identidade de Super Custódio e fazer fotos da bela paisagem. Na saída da Belmiro, 200 metros a pé pela trilha levam a uma bifurcação até a praça do Campo Escola, um paredão para a prática de escalada. À direita, temos acesso à Gruta Bernardo Oliveira. A presença constante de água na cavidade provocou a criação de pequenas estalactites no teto.
Mas nenhuma das maravilhas desse conjunto se iguala à Gruta dos Morcegos. A entrada é tão estreita que só possibilita a passagem de uma pessoa por vez. E não dá a menor pista do que nos aguarda dentro da segunda maior gruta de gnaisse do Brasil. “Ao entrar na caverna do Morcego, viajamos no tempo. Logo vem a imagem de que por ali pisaram antigos indígenas e escravos fugitivos. Hoje, serve de local de descanso e meditação para os amantes da natureza. Com 100 metros de comprimento, 30 de altura e 15 de largura, mantém uma temperatura fria, uma energia única, como se estivéssemos no fim do mundo.”
Custódio complementa: “Ela é a mais incrível das grutas que fazem parte da trilha encravada no Parque. Há vários acessos. O mais curto, de aproximadamente meia hora, sai de uma área de piquenique, um quilômetro depois do restaurante Esquilos. A trilha é fácil e segura, tem escadas de pedra e pode ser realizada por crianças pequenas”. Santa caverna, Batman! Até o super-herói de Gotham City sairia impressionado desse circuito cinematográfico de caça aos tesouros da floresta carioca.
Circuito das Grutas do Parque Nacional da Tijuca
Estrada da Cascatinha, 850 – Alto da Boa Vista
Tel.: (21) 2492-2252