Sítio arqueológico é Patrimônio Mundial reconhecido pela Unesco
O Cais do Valongo foi construído em 1811 para deslocar da Rua Direita, atual Primeiro de Março, nos arredores da Praça XV, o desembarque e o comércio de africanos que seriam escravizados no Brasil. A intenção era desviar do caminho – e do olhar – da elite branca da cidade os negros vestidos em trapos, desnutridos e adoecidos pela travessia do Atlântico. Estima-se que até um milhão de pessoas sequestradas de África aportaram na região. Por isso, é considerado o maior porto escravagista da história da humanidade.
“A escolha do Cais do Valongo como ponto obrigatório de visitação por cariocas e turistas se deve à relevância desse território, por mais de um século soterrado. Não há como sepultar o passado de brutalidade que forjou o Brasil sem conhecê-lo. O Valongo é marco da chegada dos africanos e também do nascimento de nossas mais nobres tradições culturais e religiosas, da capoeira ao samba e ao candomblé. O que temos de dor e de potência está assentado no Cais e arredores”, justifica a jornalista Flávia Oliveira.
Na esteira da chegada da Família Real portuguesa ao Brasil, em 1808, o Rio tornara-se importante entreposto negreiro, em decorrência do crescimento populacional e do desenvolvimento econômico locais. A região abrigava, além do cais, armazéns, pontos de venda de escravos, mercados e casas comerciais. Ali, o tráfico de africanos continuou clandestinamente, mesmo após a promulgação da Lei Feijó, de 1831, que proibia a importação de escravos.
O Cais do Valongo recebeu aterro de 60 centímetros de espessura em 1843, visando à construção do ancoradouro para receber a princesa napolitana Teresa Cristina, que se casaria com o imperador Dom Pedro II. Por isso, a instalação passou a se chamar Cais da Imperatriz, igualmente soterrado na virada do século XX para comportar as intervenções urbanísticas que deram ao Rio um quê de Paris.
O passado colonial ficou escondido até 2011, quando as escavações para obras de revitalização da Zona Portuária chegaram às ruínas sobrepostas do par de ancoradouros numa área de 350 metros de extensão, entre as ruas Coelho e Castro e Sacadura Cabral. Ao redor, foi identificada grande quantidade de elementos de culto e amuletos originários de Angola, Congo e Moçambique.
A Prefeitura do Rio e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) reconheceram a riqueza da descoberta e elaboraram o dossiê para fazer do sitio arqueológico Patrimônio Mundial. A Unesco classificou em 2017 o calçamento no estilo pé de moleque do Valongo como traço físico mais importante da chegada de escravos africanos nas Américas. “O Cais do Valongo é exemplo de sítio histórico sensível, que desperta a memória de eventos traumáticos e dolorosos e lida com a história de violação de direitos humanos”, descreveu a agência das Nações Unidas. Como enfatiza Flávia Oliveira, uma parada obrigatória para cariocas e visitantes.
Cais do Valongo
Avenida Barão de Tefé – Saúde