Biblioteca Rodolfo Garcia disponibiliza 70 mil títulos ao público
“A Academia nasce com a alma nova, naturalmente ambiciosa”, anunciava Machado de Assis, a 20 de julho de 1897, numa sala do museu Pedagogium, à Rua do Passeio. Após o discurso inaugural, o escritor tomou posse como primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), cargo que exerceu por mais de uma década. Ele gostava de saborear uma boa coalhada nas leiterias da época e, depois, ir flanando até lá. De tão identificada com o “bruxo do Cosme Velho”, a instituição magna de cultivo da língua pátria é conhecida até hoje como Casa de Machado de Assis.
Em 1923, o governo da França doaria à ABL o prédio – réplica do Petit Trianon de Versailles – construído no ano anterior para a montagem do pavilhão do país na Exposição Internacional de 1922, que celebrou o centenário da Independência do Brasil, no Rio. No jardim, junto à entrada, encontra-se a escultura em bronze de Machado, criada por Humberto Cozzo. O saguão, com peças de porcelana de Sèvres, leva ao Salão Francês, no qual o acadêmico eleito cumpre o protocolo de permanecer a sós antes da cerimônia de posse. Dali, outros confrades o conduzem ao Salão Nobre para ser entronizado na cadeira que lhe cabe.
A Sala dos Poetas Românticos abre-se para um belo pátio, com bustos de bronze de Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Castro Alves, Fagundes Varela e Gonçalves Dias. Já na Sala Machado de Assis, estão objetos pessoais, como todos os seus livros, anotações, lembranças literárias, a escrivaninha em que trabalhava e um retrato a óleo do escritor, de autoria de Henrique Bernardelli.
No segundo pavimento, há uma grande reprodução dos Estatutos da Academia, de 1897, assinados pelo autor de “Dom Casmurro”, Joaquim Nabuco e membros da primeira Diretoria, e também dois painéis com imagens dos fundadores e dos patronos das 40 cadeiras. Lá se encontram a Sala de sessões, o Salão de chá, onde os membros se reúnem às quintas-feiras, e a preciosa Biblioteca Lúcio de Mendonça, iniciada pela doação do romance “Flor de sangue”, ainda em 1896. O acervo de 20 mil títulos – disponível aos acadêmicos e pesquisadores – inclui muitas obras raras dos séculos XVI a XX, à imagem da edição princeps de “Os Lusíadas”, de 1572. É supimpa agendar uma visita gratuita ao prédio, guiada por um grupo de atores que relatam fatos históricos da ABL e curiosidades sobre a vida e a obra dos imortais.
Ao lado do Petit Trianon, está o Palácio Austregésilo de Athayde, inaugurado em 1979. Ali, foi instalada a Biblioteca Rodolfo Garcia, cujo acervo, de cerca de 70 mil títulos, atende à comunidade em geral. O Palácio apresenta um caldeirão diversificado de eventos, como sessões de cinema e teatro, recitais, lançamentos de livros, conferências, exposições, leituras dramatizadas e mesas-redondas. O velho Machado, mais de 120 anos depois, continua acertando em relação à alma ambiciosa de sua casa, que não cessa de fabricar biscoitos finos para a massa.
Academia Brasileira de Letras (ABL)
Avenida Presidente Wilson, 203 – Centro
Visita guiada – Tel.: (21) 3974-2526