Vitrais alemães representam as musas protetoras da dança, da música e do teatro

A infância em São Luís do Maranhão foi pobre de marré deci. Mas não a imaginação delirante do menino que ganhava a vida como auxiliar administrativo para ajudar a mãe operária. Num passe de mágica mental, os buracos da murada de casa se transmutavam em faustosos palácios – numa avant-première de sua futura máxima “quem gosta de miséria é intelectual”.

Com o bichinho da arte inoculado pelo Teatro Arthur Azevedo – onde na adolescência assistia a ensaios de companhias como as de Procópio Ferreira – João Clemente Jorge Trinta chega ao Rio na flor dos 18 anos, no domingo de carnaval de 1951. E consegue entrar no famoso baile de máscaras do Teatro Municipal. Deslumbrado com a ambiência de luxo e riqueza que tanto o fascinava, resolve estudar numa academia de dança, de olho no concurso para o Corpo de Baile. Ali, ele permaneceria na ponta das sapatilhas por uma década – e mais outra em funções de cenógrafo e figurinista.

Sobre a imponente beleza renascentista do prédio do Municipal, inaugurado em 1909, até as pedras portuguesas da Cinelândia saberiam falar. Mas, além de assistir a suas grandiosas produções da plateia, que tal fazer uma visita guiada para conhecer em detalhes a magnífica arquitetura interior do teatro que pavimentou o caminho para o estrelato de Joãosinho Trinta?

O tour é realizado de terça a sexta – quando há um horário com tradução em inglês e espanhol – e nos sábados e feriados, ao longo de 45 minutos. Começa no subsolo, pelo mesopotâmico Salão Assyrio, que abrigou os bailes de máscaras, o cabaré onde Pixinguinha se apresentava e um restaurante. Hoje, ali funciona o Café do Theatro. Depois, sobe-se um andar até o Hall dos Bustos, onde estão perfiladas esculturas de nomes importantes para a história do Municipal, como os prefeitos Pereira Passos e Sousa Aguiar e o maestro Carlos Gomes.

Na sequência, vem a impactante entrada na sala de espetáculos vazia, com a visão geral dos cerca de dois mil assentos. Olhe bem para o teto: lá sobressai o imenso lustre de bronze, com mais de 100 lâmpadas e pingentes de cristal, e as bailarinas de “A dança das horas”, obra de Eliseu Visconti. Após alcançar o primeiro lance da suntuosa escadaria principal, ornada por esculturas em mármore de Carrara e luminárias inglesas, você verá os três lindos vitrais alemães, representando as musas protetoras da dança, da música e do teatro. A visita termina na varanda lateral do teatro, com a panorâmica dos prédios históricos do entorno.

De volta ao bailarino Joãosinho, o Municipal deve ser lembrado também como o local onde ele conheceu Fernando Pamplona e Arlindo Rodrigues, cenógrafos do teatro e carnavalescos do Salgueiro, que o levaram à escola vermelho e branco para auxiliá-los no desfile de 1963. Logo a estrela de Joãosinho Trinta brilharia sozinha. A coreografia de luxo e riqueza, que povoava os sonhos do menino maranhense, enfim se consagraria na principal avenida do samba, num verdadeiro balé.

 

Teatro Municipal
Praça Floriano, s/n° – Cinelândia
Visitas guiadas – Tel.: (21) 2332-9220