Casarão foi reconstruído a partir das ruínas de residência do século XIX
Num sábado de inverno, o telefone toca na casa de Lóri. “Era Ulisses e ele perguntava se ela não queria almoçar na Floresta da Tijuca. Ela se controlou para não gritar que sim (…) E assim encontrou-a ele e olhou-a com admiração: ela estava extravagante e bela. Em silêncio rodaram pelas ruas até atingirem a floresta, cujas árvores estavam mais vegetais que nunca, enormes, encipoadas, cobertas de parasitas. E, quando a densidade orgânica das plantas e capim altos e árvores mais pareceu se fechar, chegaram a uma clareira onde estava o restaurante, iluminado por causa da escuridão do dia. Ele levou-a para um salão onde havia uma lareira acesa, enquanto ia encomendar o almoço na sala do restaurante. Em breve voltava, ele mesmo, com dois copos de vinho vermelho na mão.”
Este trecho de “Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres” narra o encontro de Lóri e Ulisses num local inspirado no restaurante Os esquilos, que sua autora, Clarice Lispector, gostava de frequentar. A casa foi reconstruída a partir das ruínas da residência do Barão d’Escragnolle, amigo de D. Pedro II e nomeado administrador da Floresta da Tijuca em 1874, dando sequência ao processo de replantio da região.
Nos idos de 1942, o cozinheiro italiano Hugo Busca havia aportado no Rio. Entre diversos jantares feitos para a alta sociedade carioca, ele conheceu Getúlio Vargas. E recebeu do presidente a concessão para explorar o restaurante que seria inaugurado, três anos depois, no lugar onde residiam até então os gerenciadores da Floresta. Em 1986, sua filha Anna Paola Busca assumiu o comando da casa, nas mãos da família até hoje.
“Não sei mais se no restaurante da Floresta da Tijuca tem galinha ao molho pardo, bem pardo por causa do sangue espesso que eles Iá sabem preparar”, disse Ulisses à Lóri. Claro, a sangria desatada que levava o personagem a pensar “no gosto voraz com que comemos o sangue alheio” e na “nossa truculência” não consta do cardápio. Mas a lareira segue firme e o que não faltam são bons pratos tradicionais da cozinha brasileira e internacional.
De entrada, pasteizinhos e carpaccios, ou mesmo a salada de frango, cenoura, passas e batata palha. Depois, as opções vão de steak ao poivre, medalhão ao molho roquefort ou de mostarda e carne seca desfiada, a salmão ao molho de maracujá, filé de namorado ao molho de camarão, abacaxi e champignon e penne ao molho de queijo. Nos fins de semana, reina a soberana feijoada. E, de maio a outubro, o fondue à beira do fogo.
O petit gâteau com sorvete de creme e a mousse de chocolate com raspas de castanha completam o programa para romântico nenhum botar defeito. “Bebendo vinho devagar, eles esperavam que o garçom viesse avisar que o almoço estava pronto. Eles dois eram os únicos hóspedes, ninguém parecia ter querido se arriscar com o frio e a chuva fina que caía sem parar.” Faça como Ulisses e Lóri. Sabiam de tudo, esses dois.
Os Esquilos
Estrada da Cascatinha, s/n – Alto da Boa Vista
Tel.: (21) 2492-2197