Sobrado na Rua da Carioca compartilha memória do mais antigo ritmo brasileiro

Aos precoces 14 anos de idade, Paulo César Pinheiro já escrevia, ao lado de João de Aquino, um clássico da MPB. Nos versos de “Viagem”, imortalizada na voz de Marisa Gata Mansa, o garoto dizia que estava de malas prontas: a poesia viera ao seu encontro e ele partiria de carona na garupa leve de um vento macio. No último 28 de abril, aquele adolescente que cresceu ao som das rodas de samba nos botequins do bairro seresteiro de São Cristóvão completou 70 anos.

Os festejos foram abertos por uma temporada de shows ao longo de três semanas no Instituto Casa do Choro (ICC), inaugurado em 2015 e hoje um lugar especial para o poeta. Dirigida pela cavaquinista e compositora Luciana Rabello, sua mulher, a entidade se dedica ao ensino e à divulgação da mais antiga música instrumental brasileira – ultrapassando um século e meio de história. E, também, ao compartilhamento de acervos de baixa acessibilidade ao público, incentivando a formação de profissionais da área e novas plateias.

O belo sobrado de princípios do século XX, tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), abriga oito salas de aula, o estúdio Raphael Rabello (o superviolonista que era irmão de Luciana) e o Centro de Pesquisa Jacob do Bandolim. Este acervo engloba 15 mil partituras – de Ernesto Nazareth e Chiquinha Gonzaga a Pixinguinha e Cristóvão Bastos –, instrumentos, discos, livros, fotografias e caricaturas, provenientes das Coleções Maurício Carrilho (vice-diretor da casa), Hermínio Belo de Carvalho (presidente do Conselho de Honra), Almirante, entre outras. Tudo disponível à consulta pública. Destaca-se, ainda, o Auditório Radamés Gnatalli, um charmoso teatro de 100 lugares.

“A Casa do Choro representa hoje um oásis da música brasileira no Rio. Junto a nomes como Maria Bethânia, Dori Caymmi e Kati Almeida Braga, sou conselheiro de lá. Tudo o que se faz no Instituto é de bom gosto. Há uma grande preocupação em abrir espaço ao surgimento de novos valores. Assistimos a apresentações de grupos como o Jetiquibá do Samba, por exemplo, formado por seis músicos jovens, entre eles Julião Rabelo Pinheiro, meu filho com a Luciana”, conta o poeta – que vem caminhando desde muito longe, espalhando música no ar.

 

Instituto Casa do Choro (ICC)
Rua da Carioca, 38 – Centro
Tel.: (21) 2242-9947