Reserva na Avenida das Américas era repouso do guerreiro do soul

Com a autoridade de Síndico do Rio, ele assegurava que do Leme ao Pontal não havia nada igual. Sem contar Calabouço, Flamengo, Botafogo, Urca, Praia Vermelha… Pós-graduado em irreverência, Tim Maia, além do vozeirão descomunal – que eternizou em canções de exaltação às belezas do Rio, amores intensos e sonhos azuis da cor do mar – era famoso também por levar uma vida de excessos.

Por causa deles, costumava “mandar o Lima” – jargão entre os músicos para sintetizar que alguém havia faltado a um show ou gravação –, personificando a figura do rei do apronto. O que muitos ignoram é que o descobridor dos sete mares tinha lá sua porção light. Quando queria sossego, se mandava – acredite – para o Parque Natural Municipal Bosque da Barra, situado no bairro da Zona Oeste, onde morou até partir, em 1998, para cantar com os astros celestes.

No ecossistema da Unidade de Conservação de 50 hectares subsiste a vegetação original de restinga da Baixada de Jacarepaguá, com áreas arenosas, várzeas e brejos, incluindo espécies florais ameaçadas de extinção e uma variada fauna local. Um ambiente perfeito para a oxigenação do cérebro e fomento do ócio criativo. Tim relaxava em meio aos três quilômetros de alamedas de terra ou saibro, que inspiram passeios a pé ou de bike e a observação de aves (saracuras, tiês-sangue, quero-queros), borboletas, cotias, saguis, bichos-preguiça e capivaras.

Os amplos espaços arborizados são ótimos para piqueniques ao ar livre. É comum ver pessoas caminhando com cestinhas e caixas de isopor e estendendo toalhas sobre o gramado. Ainda mais porque ao fundo se vislumbram as belas silhuetas da Pedra Bonita e da Pedra da Gávea – outro ponto, pasme, que servia de repouso ao guerreiro do soul.

A reserva, também conhecida como Parque Arruda Câmara, dispõe de estrutura de lazer às margens do lago – onde podem ser observados os jacarés-de-papo-amarelo –, com quadras de vôlei e de futebol, pista de corrida, ciclovia, equipamentos de ginástica e parquinho de brinquedos, além de estacionamento. Lá, funciona ainda um Núcleo de Educação Ambiental, que promove visitas guiadas, palestras, exposições e atividades educativas infantis.

Tijucano, Sebastião Rodrigues Maia, o Tim, começou a gravar sua história ainda adolescente, na esquina das ruas do Matoso e Haddock Lobo – uma espécie de incubadora, a Memphis, digamos assim, do rock nacional. Lá, ele e seu grupo “The Sputniks”, formado também por Roberto e Erasmo Carlos, se reuniam para trocar ideias musicais com, por exemplo, Jorge Benjor.

Do início aos anos derradeiros, é interessante notar como a Tijuca – seja a região tradicional da Zona Norte do Rio, herdeira das antigas chácaras e terra dos cinemas à época da juventude de Tim Maia, ou a que subiu o Alto da Boa Vista, atravessando a floresta criada por D. João VI e dando origem à Barra – marca a vida do cantor. O Parque da Barra bem que merecia o nome de Bosque do Tim.

 

Parque Natural Municipal Bosque da Barra
Avenida das Américas, 6.000 – Barra da Tijuca
Tel.: (21) 3151-3428