Parte da coleção de MPB migrará para novo centro cultural no Norte Fluminense

Fundado em 2001, o Instituto Cultural Cravo Albin (ICCA) nasceu com a missão de gerar as configurações necessárias para recepção, guarda e manutenção de registros culturais, em especial os dedicados à Música Popular Brasileira, e de constituir uma referência na prestação desses serviços. Os preciosos materiais, que chegam frequentemente à sede, passam por higienização, catalogação e acondicionamento em locais adequados.

Uma equipe de especialistas – composta por museólogos, bibliotecários e musicólogos – trabalha focada em criar as condições propícias à manipulação dessas pérolas e viabilizar o acesso de pesquisadores a elas. O projeto de preservação utiliza metodologia técnico-científica, dentro de normas internacionais, de modo a assegurar o tratamento apropriado do valioso patrimônio de que ICCA é depositário.

Os vários ambientes do Instituto são o paraíso para os aficionados pela música brasileira. Seus cerca de três mil metros quadrados armazenam discos de vinil, vitrolas, documentos textuais, fotografias, recortes de jornais e revistas, roteiros de programas de rádio e gravações históricas (a exemplo de um encontro entre Pixinguinha, Tom Jobim e Vinicius de Moraes no Clube de Jazz e Bossa), vídeos com depoimentos diversos, indumentárias, troféus, quadros, gravuras, esculturas e até mobiliário de época. E, joia da coroa, o arquivo fonográfico, composto por aproximadamente 60 mil discos de 12, 10 e 8 polegadas; duas mil fitas sonoras em rolo; 700 em cassete; e cinco mil CDs.

Além do primoroso acervo acumulado ao longo da vida de seu patrono, Ricardo Cravo Albin, o ICCA conta com o auxílio de muitos parceiros. São coleções preciosas e raríssimas – à imagem das doadas por Mário Priolli (todo o acervo do Canecão), Nélida Piñon e Geraldo Casé, entre mais de 100 beneméritos nesses quase 20 anos de existência.

Depositário das esperanças de preservação de um a um dos que lhe entregam suas coleções, o Instituto tem a responsabilidade ética de ajudar a ampliar o projeto de conservação da nossa memória. Para que se tenha uma ideia do prestígio e da confiança do ICCA junto aos colecionadores particulares, um arquivo completo de duas toneladas de discos foi cedido pela herdeira de uma rádio desativada no município paulista de Guaratinguetá; assim como uma maleta contendo vestimenta de show das Frenéticas, entregue por Leiloca; além de roupas de Emilinha Borba e Marlene; até um par de sapatos de Carmem Miranda, doado pela irmã Aurora.

As sempre bem-vindas contribuições fazem da bela edificação ao sopé do morro da Urca – com vista estonteante da Baía de Guanabara – uma espécie de museu da MPB. Mas, mesmo espaçosa em seus vários níveis, emoldurada pela exuberância da Mata Atlântica, a casa que marca o início da Avenida São Sebastião às vezes fica pequena. É quando bate às suas portas mais um expressivo volume de peças preciosas, a exigir o devido cuidado quanto a seu armazenamento e conservação.

Nessas horas, o incansável diretor Ricardo Cravo Albin precisa recorrer a instituições e empresas amigas para o compartilhamento da guarda de joias do patrimônio artístico carioca. Como está acontecendo agora, com a transferência do acervo técnico intitulado “Coleção Cravo Albin da MPB” para São Fidélis, a 53 quilômetros de Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense.

A boa nova é a inauguração, em 2020, do Centro Cultural Cravo Albin-Abreu, na Usina Pureza, um engenho canavieiro de 1885, sob o controle do Grupo MPE Engenharia e Soluções desde 1999. Há mais de sete anos, a unidade foi desativada e convertida em museu-escola. No bonito vale à margem do rio Paraíba do Sul, o novo espaço representa uma iniciativa do empresário Renato Abreu, presidente do Grupo.

Para São Fidélis migrará um grande objeto de cobiça: toda a coleção do Canecão doada pela família Priolli ao ICCA, composta por fotografias, recortes de imprensa, roteiros de shows e mais um vasto arquivo documental. “Temos um tesouro que ainda está por ser tratado convenientemente. É o que faremos, tanto com ajuda da aliada de sempre, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), que já promoveu as primeiras intervenções, quanto com o apoio do nosso novo parceiro privado, Renato Abreu”, adianta Cravo Albin.

Ele arremata: “O compartilhamento de nosso acervo com o novo espaço cultural promoverá a irradiação da pesquisa em torno da cultura musical brasileira também ao Norte Fluminense. Estamos bastante animados com essa movimentação, que imprimirá um fôlego adicional ao trabalho que vimos desenvolvendo ao longo de tanto tempo. Bem-vindo 2020!”

“Estamos bastante animados com essa movimentação, que imprimirá um fôlego adicional ao trabalho que vimos desenvolvendo ao longo de tanto tempo”

RICARDO CRAVO ALBIN
PRESIDENTE DO ICCA